Nunca se falou tanto sobre qualidade de vida e saúde mental no trabalho como se tem falado a partir da crise pandêmica da covid-19. Esse tema, provavelmente, será cada vez mais discutido no futuro e é fundamental para o desenvolvimento do trabalho.
Equipes insatisfeitas e ambientes sem o olhar integrado do ser humano – esferas biológicas mentais e sociais – tornam-se improdutivas, ficam mais propensas a erros, atuam no limite do estresse e acabam gerando conflitos com mais facilidade.
Vivemos em uma época de velocidade e esgotamento, a qual a valorização de pessoas inquietas ou hiperativas, que se submergem no cotidiano produtivo realizando múltiplas tarefas. Dentro desse contexto, o nosso cérebro entra no piloto automático e muitas vezes nos deparamos com os riscos psicossociais. Porque quando estamos nesse modo, nossa capacidade de concentração, memória e atenção podem estar prejudicadas. Deixamos de prestar atenção aos riscos e condições comprometedoras de saúde que podem aparecer, por exemplo o Burnout.
Segundo o filósofo Byung-Chul Han, nós vivemos um fenômeno chamado “sociedade do cansaço”. Ele explica que o nosso sofrimento psíquico e nossas doenças mentais decorrem dos diferentes excessos de desempenho que essa ideia nos impõe – o excesso de positividade; da exigência de desempenho; da pressão pela comparação nas redes sociais; a ideia equivocada de ser multitarefas como algo positivo – além de sermos constantemente bombardeados com padrões que a sociedade impõe, como: aparência ideal; vida social agitada; status; carreira de sucesso; bens materiais; e outros. A crítica se faz aos excessos e a falta de consciência sobre esses aspectos. Obviamente, sentir-se satisfeito com a sua aparência, ter uma vida social ativa e buscar desenvolvimento profissional ou ambicionar conquistas materiais de acordo com seus objetivos é importantíssimo, no entanto, muitas vezes nos perdemos nesses diferentes excessos, podendo afetar a nossa saúde.
Essa é a sociedade do desempenho, da eficácia, da pressa, do cansaço, onde não há espaço para reflexão, porque afinal de contas isso tomaria um tempo que poderia ser convertido em produtividade.
Quando pensamos em questões de saúde e adoecimento mental, precisamos considerar a interação das condições de vida social com a trajetória específica da pessoa e sua estrutura psíquica. As condições externas – meio ambiente; poluição sonora e visual intensas; condições de trabalho estressantes; trânsito caótico; índices de criminalidade; excesso de apelo ao consumo; perda de entes queridos; entre outros fatores – devem ser entendidas como determinantes ou desencadeadoras de possíveis adoecimentos mentais e emocionais, ou propiciadoras e promotoras da saúde mental, ou seja, da possibilidade de realização pessoal da pessoa em todos aspectos de sua capacidade.
Portanto, precisamos considerar as relações entre sociedade e sofrimento psíquico – por exemplo, síndrome de burnout, transtornos de déficit de atenção e hiperatividade, transtornos de ansiedade e depressão. Além dos aspectos fisiológicos, o autor do livro Sociedade do Cansaço, destaca sua relação direta com o modo operatório da nossa vida cotidiana atual.
Falar em adoecimento implica pensar, também, em prevenção. A prevenção em saúde mental significa criar estratégias para evitar o seu adoecimento. A prevenção busca ações no meio social e pensar na pessoa em sua integralidade e totalidade, ou seja, como ser biológico, psicológico e sociológico e, ao mesmo tempo, em todas condições de vida que visam bem estar físico, mental e social. Para a Organização Mundial de Saúde (OMS), saúde mental refere-se a um bem estar no qual o indivíduo desenvolve suas habilidades pessoais, consegue lidar com os estresses da vida, trabalha de forma produtiva e encontra-se apto a dar sua contribuição para sua comunidade.
A noção de “essencialismo” surge como um termo crítico de algumas correntes de pensamento, e que afirmam ser possível distinguir “as propriedades acidentais e essenciais de um objeto”.
O autor do livro Essencialismo: a disciplinada busca por menos, Greg Mckeown, é um dos maiores multiplicadores da atualidade sobre a importância de viver de forma essencialista.
Quando tentamos fazer tudo e ter tudo, realizamos concessões que nos afastam dos nossos reais objetivos, desejos e propósitos.
Muitas pessoas acreditam que a ideia de essencialismo está relacionada à uma prática espiritual, no entanto, no contexto atual em que vivemos, o essencialismo é entendido como um método sistemático para ajudar a entender quais tarefas (pessoais ou profissionais) precisam ser realizadas e quais podem ser eliminadas. Dessa forma, promovemos uma organização mental, física e comportamental.
Não se trata apenas de identificar ou cumprir tarefas, mas sim, aprender a gerenciar os diferentes excessos do cotidiano. A proposta do essencialismo não é de classificar pontos bons ou ruins, dentro do contexto de excesso de informações, ideias, ofertas, escolhas, caminhos, tarefas e etc. Mas, auxiliar em escolhas conscientes, baseadas na compreensão de que não poderemos realizar todos esses excessos, mas sim o fundamental e com dedicação, atenção e qualidade. Dessa forma, essa proposta nos ajuda não apenas a eliminar atividades que não são prioridades, mas também algumas angústias.
A pessoa essencialista não faz mais coisas em menos tempo, mas ela faz apenas as coisas que acredita serem certas para aquele momento.
Por exemplo, se você se sente sobrecarregado, ocupado e ao mesmo tempo subutilizado e pouco produtivo, ou se o seu tempo parece mais servir aos outros do que para você, talvez o essencialismo possa ajudar.
A proposta é ajudar na capacidade produtiva e alívio de estresse em relação ao excesso de tarefas e múltiplos estímulos.
As reflexões sobre o Essencialismo mudam nossas perspectivas sobre o mundo. Aos poucos essa visão nos conduz para além da produtividade. Aprendendo a reduzir, simplificar e manter o foco nas diversas áreas da vida. Desapegando constantemente para estar mais próximo daquilo que faz diferença para a vida.
Confira algumas dicas de como iniciar uma vida mais essencialista.
– Para compreender o essencial é preciso revisar a vida, desde o início. Pense a longo prazo, tanto em direção ao passado quanto para o futuro. É saber o que realmente importa para você.
– Busque autoconhecimento de forma contínua. Dessa forma, promovemos mais consciência dos motivos de realizarmos algo. Existe uma série de exercícios que podem auxiliar nessa busca. Além das práticas de autocuidado, considere a psicoterapia com um psicólogo para ajudá-lo nesse caminho.
– Saiba definir limites – Quando definimos limites podemos refletir o esforço que será necessário, a qualidade que podemos oferecer e até mesmo a urgência que ela terá.
– Elabore uma lista de atividades da semana, com três categorias: urgentes, essenciais e outras. Urgentes são atividades essenciais que não foram executadas em seu devido tempo e agora precisam ser prioritárias. As atividades essenciais são aquelas que contribuem para que eu alcance meu objetivo, o que não posso ficar sem neste período. Outros é aquilo que não se encaixa em nenhuma das duas outras categorias.”
– Faça pequenos passos.
– Não esqueça de viver o agora. Viver o agora não significa não pensar no futuro ou planejar. Significa promover um estado de experiência com alta concentração, foco, positividade, prazer, sendo também, recompensador. Conseguindo extrair do momento o melhor daquela experiência.
Quer saber mais sobre o tema? Indicamos o livro Essencialismo: a disciplinada busca por menor, por Greg Mckeown.
Não se esqueça: muitos fatores compõem o adoecimento psíquico, portanto, se estiver confuso, com sinais ou sintomas de desequilíbrio mental ou emocional, busque apoio profissional para ajudar a entender o que está acontecendo e quais estratégias de cuidado são necessárias na sua jornada de saúde.