Cuidados à Saúde da População LGBTQIAPN+

Cuidados à Saúde da População LGBTQIAPN+

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A comunidade LGBTQIAPN+ representa uma parcela da sociedade caracterizada por diversidade referente a identidade de gênero e orientação sexual, fugindo dos padrões patriarcais, cis e heteronormativos fortemente impostos pela sociedade atual.

Considerando este cenário, é impossível não citar a infeliz e injusta violência que essa comunidade sofre. Violência física, pois dados mostram que, em 2022, uma pessoa LGBTQIAPN+ foi morta a cada 32 horas justamente devido a preconceitos contra sua identidade de gênero e/ou orientação sexual; violência social, pois a taxa de desemprego na comunidade pode chegar a 40% e, dentro da parcela empregada, cerca de 54% não se sente segura no ambiente de trabalho.

Visualizando essa grande desigualdade, é de suma importância que tenhamos uma atenção especial à esta comunidade, principalmente no âmbito da saúde, pois a violência produzida e reproduzida contra ela culmina em piores condições de vida e saúde, adjunto maiores riscos de adoecer e de morrer por menor acesso aos bens e recursos de saúde.

Portanto, é de extrema importância que o assunto de equidade referente comunidade LGBTQIAPN+ seja apontado como um dos principais focos da sociedade atual, principalmente na área da saúde no âmbito público, pois é papel do Sistema Único de Saúde (SUS) ter um funcionamento totalmente baseado na universalização, ou seja, centrados em integralidade e equidade.

O principal contato que os serviços de saúde têm com a comunidade LGBTQIAPN+ é justamente na atenção primária à saúde. Dentro desta grade de conhecimento, o todo o sistema de saúde pode fazer uso de suas vertentes para abranger com complexidade todas as demandas desse grupo.

Focando diretamente na saúde desta população, o Ministério da Saúde, através do relatório “Atenção Integral à Saúde das Mulheres Lésbicas e Bissexuais” evidencia números preocupantes em relação ao autocuidado: apenas 47% das mulheres que mantém relação sexual com outras mulheres realizam consultas ginecológicas anualmente. A disparidade ao analisarmos esse caso em comparativo com a mesma pesquisa (2021) focada em mulheres de forma geral é enorme, apresentando 76% de adesão ao mesmo tratamento.

Inclusive, há também grande incidência em relação a casos oncológicos. A Clinical Journal of Oncology Nursing (CJON) realizou um levantamento sobre o acolhimento e o tratamento em para com pessoas LGBTQIAPN+. Neste estudo, observa-se a grande incidência de pessoas dentro desse grupo social que possuem doenças oncológicas (câncer) e, além disso, um número significante destas pessoas não realizam o tratamento adequado da doença.

Relacionado a oncologia, a alta incidência na população pode estar diretamente relacionada, também, com o maior índice de uso de tabaco, álcool e maior incidência de obesidade na população LGBTQIAPN+. Inclusive, tanto o maior uso destas substâncias, quanto menor aderência aos tratamentos clínicos e ainda o baixo nível de cuidados preventivos podem se justificar por uma razão em comum: pouco acolhimento dos profissionais da saúde para com essas pessoas, evidenciando uma incapacidade atual destes profissionais que deve ser alterada para que tenhamos maior inclusão no sistema de saúde.

Para que isso ocorra, inicialmente é essencial que haja um trabalho devidamente humanizado por parte de toda equipe multidisciplinar dentro de um serviço de saúde, seja enfermeiro, médico, fisioterapeuta, psicólogo, etc. Essa abordagem, sendo profissional e empática, visa eliminar o primeiro desafio para os cuidados da população LGBTQIAPN+, o preconceito.

Após o primeiro acolhimento, desenvolvimento de um vínculo entre profissional e paciente e respectiva relação mútua de respeito, o paciente se sentirá zelado pela equipe de saúde e se mostrará mais apto a aderir aos demais procedimentos que podem ser necessários.

Inclusive, o maior trabalho a ser realizado na atenção primária só consegue alcançar o êxito perante uma confiança e um pleno entendimento do paciente: a promoção a saúde. Promover a saúde do paciente, ensinar sobre o autocuidado e a necessidade da adesão aos procedimentos de saúde é um dos fatores mais poderosos do serviço e somente quando o paciente se sente acolhido e compreendido que ele estará disposto a isso.

Por final, o direcionamento correto – sempre com a abordagem adequada, preferida pelo paciente – aponta para um desenvolvimento ascendente dos serviços de saúde em conjunto com a população LGBTQIAPN+. Combater o preconceito é um trabalho essencial dentro de toda a comunidade e imprescindível dentro de um acolhimento saudável. Não é preciso “apenas” respeitar, mas fazer com que o paciente sinta a importância que ele tem perante a sociedade e, por assim, que ele consiga ter cada vez mais acesso e adesão aos serviços oferecidos pelo nosso sistema de saúde.

BIBLIOGRAFIA:
https://publicacoes.abennacional.org.br/wp-content/uploads/2022/07/e12-vulneraveis_vol-II-cap10.pdf
https://bvsms.saude.gov.br/bvs/publicacoes/politica_nacional_saude_lesbicas_gays.pdf
https://www.cnnbrasil.com.br/economia/lgbtqi-54-nao-sentem-seguranca-no-ambiente-de-trabalho/
https://www.cnnbrasil.com.br/economia/lgbtqia-apesar-de-conquistas-desemprego-na-comunidade-pode-chegar-a-40/
https://www.cnnbrasil.com.br/nacional/uma-pessoa-lgbti-foi-morta-violentamente-a-cada-32-horas-no-brasil-em-2022
https://oncologiabrasil.com.br/cuidados-com-pacientes-oncologicos-lgbtqia/

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